Quando falamos de relacionamento abusivo, sempre temos a notícia de alguém que está passando por essa situação. E temos a tendência de julgar: se é tão ruim, porque a pessoa continua nesse lugar? Nossa, ela parece que gosta de sofrer!  A pessoa não se dá o valor! A pessoa está cega ou não quer ver?

É muito fácil emitir uma opinião como se fosse simplesmente uma escolha da pessoa ficar ou não num relacionamento abusivo, mas não é tão claro e óbvio assim.

As relações começam de maneira agradável. Há o momento da conquista onde tudo parece perfeito. Existe carinho, troca e respeito. A pessoa realmente parece que encontrou alguém para partilhar sua caminhada. O amor é tão grande que o outro só quer a pessoa para si. Começa a implicar com várias pessoas, deixando a enamorada feliz por ter alguém tão maravilhoso que supre todos os outros. A pessoa começa a se isolar só com o seu objeto de amor.

Mas no relacionamento abusivo, uma das partes começa a mudar. Fica irritado com pequenas coisas, as acusações começam a aparecer como se sempre o outro estivesse fazendo algo inadequado. Os momentos começam a ficar ruins. Nossa tendência natural é tentar o diálogo, mas isso não é possível, pois nada mudou, a pessoa que está inventando histórias aonde não existe. Várias dúvidas começam a se formar com se a pessoa tivesse realmente feito algo errado. O que eu fiz para merecer isso? O que ele gostava e não gosta mais? Será que realmente estou pegando no pé dele? Será que estou criando situações que não existem?

O relacionamento abusivo é marcado por uma relação tóxica onde agressões verbais e, às vezes físicas começam a aparecer. O agressor diz que a culpa é sempre do outro, e se isso está acontecendo, é porque de alguma forma ela merece. A tortura psicológica é tanta que a pessoa fica perdida, acreditando realmente que a culpa é dela.

Mas porque não sair desse relacionamento abusivo? De alguma maneira o agressor demonstra que ele é muito importante para pessoa, que é o único que a ama verdadeiramente. Que se a pessoa o deixar, ela ficará só e abandonada. E pessoas dependentes emocionais acreditam nesta falsa verdade. Afinal se ele foi amoroso um dia, irá voltar a ser. Ela que fez algo errado. É só descobrir essa falha que tudo voltará a ser bom novamente.

Mas o processo do relacionamento abusivo tem um certo padrão. Primeiro tem a conquista onde tudo é maravilhoso. Depois vem a fase do isolamento, onde de alguma maneira os laços afetivos são rompidos com as outras pessoas como amigos e familiares. A relação se restringe aos dois enamorados. Em seguida começam as críticas e as agressões verbais. E aí vem o sofrimento, como se a pessoa não tivesse saída e a esperança de que tudo melhore.

Quando a pessoa chega num sofrimento muito grande e se conscientiza que não quer mais ficar neste lugar, ela tenta se desligar neste relacionamento, mas não é tão fácil assim. É um adoecer muito grande, é uma prisão desenvolvida que ás vezes parece não tem saída. Há de alguma forma um ganho seja ele, emocional ou financeiro.

Neste momento é necessária uma ampliação de uma rede de apoio e a ajuda de um psicólogo para ressignificar essa dependência emocional.

É necessária informação de que ninguém fica numa relação tóxica e abusiva porque quer e gosta de sofrer. O olhar deve ser para alguém que está adoecido e que precisa do nosso olhar empático para poder acolher e ajudar essa pessoa. Ela já é muito criticada e julgada, e precisa se redescobrir e observar que existe a possibilidade de ter relações saudáveis e felizes.